A máquina de costura.

Sonia Silva Gomes
2 min readFeb 14, 2024

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Quando eu era criança todo carnaval minha mãe me fazia uma fantasia nova. Tive fantasia de portuguesa, de cigana e até de bailarina e nessa mamãe fez até a sapatilha, pois a falta de dinheiro faz com que a criatividade venha à tona. Na ocasião minha mãe dizia que mulher que não tinha máquina de costura era preguiçosa (na realidade ela usava uma palavra mais feia). Não existiam coisas prontas como agora, tudo era feito em casa.

Eu segui pelo mesmo caminho quando tive meus filhos. Minha máquina de costura Singer ainda existe e funciona, tem sessenta anos. Nas festinhas de aniversario e nas do jardim de infância eu fazia todas as roupas.

Na realidade os projetos começavam bem antes, na escolha dos tecidos, adereços, fitas e fitilhos. Tudo isso dava trabalho, mas era muito prazeroso costurar, pregar enfeites, provar. Isso falando de carnaval, porque tambem as roupas do dia a dia eram feitas em casa. Meu pai adorava comprar tecidos e tinha bom gosto e meu avô favorito tambem.

A criatividade não parava por aí. Roupas de minha mãe quando solteira foram reformadas para mim e uma vez meu pai descobriu que o “papel vegetal” que ele usava para os desenhos de topografia eram uma base de cambraia de linho com uma cobertura, que permitia o desenho. Aí lá se foi um pedaço do “papel” para a banheira com água e em alguns dias o linho passou a existir e virou esse lindo vestido da foto acima.

Mais tarde um amigo que tinha duas irmãs me ensinou a tirar moldes da revista Burda e isso foi ótimo. As folhas de molde traziam todos os tamanhos das roupas.

Aí eu cresci, comecei a ganhar meu próprio dinheiro e comprar os tecidos para costurar primeiro dando aulas para as vizinhas e depois, quando entrei na faculdade de arquitetura, consegui um emprego no famoso Liceu de Artes e Ofícios. O escritório era na Rua Augusta, na ocasião o local da moda em São Paulo. Uma lojinha que vendia retalhos perto do escritório foi a salvação, pois comprava vários pedaços do mesmo tecido, por um valor pequeno e fazia minhas roupas.

Quando meu casamento foi marcado comprei a revista Burda Noiva e achei um lindo vestido. Meu pai me deu o tecido tafetá chamalote cor pérola e minha futura sogra me deu um pedaço de renda italiana feita a mão, com mais de cem anos. O meu vestido de noiva ficou lindo e fui eu que fiz. Tenho muito orgulho disso!

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Sonia Silva Gomes

Arquiteta, bruxa, escritora, cozinheira, mãe, avó, bisavó, feliz no casamento.