Bacalhoada com historia…

Emilia é a de vermelho.

Hoje resolvi fazer uma bacalhoada ensinada por Emília, a portuguesa minha amiga há sessenta anos.

Quando casei eu tinha vinte e três anos e sabia cozinhar um pouco, mas não sabia lidar muito com uma casa que fosse minha. Minha amiga me ofereceu uma amizade preciosa que dura até hoje e me ensinou muita coisa. Já faz dez anos que ela está parcialmente fora do ar. Ela sabe que gosta de mim, mas não sabe quem eu sou.

Voltando a bacalhoada, eu já tinha colocado o bacalhau de molho para dessalgar. Fui pegar as batatas, que obrigatoriamente tem que ser as sujas, não as com casca lavada. Descasquei e cortei em fatias mais ou menos de meio centímetro. Depois descasquei as cebolas tendo o cuidado de cortá-las ao meio na vertical, para não chorar. Daí tirei a casca e cortei também verticalmente.

Fui na horta buscar louro fresco no pé. Louro fresco é um raro prazer na comida.

O repolho, que vai por cima, foi só desfolhado. Peguei também as azeitonas pretas sem caroço e o orégano. Orégano no bacalhau? Pois é, Emília colocava um pouquinho de orégano em tudo e tudo ficava marvilhoso.

Montadas as camadas de batatas, bacalhau, cebola, azeitonas, louro, orégano coloquei uma xícara de azeite de oliva virgem. Provei o sal e coloquei um pouquinho mais.

Coloquei sobre tudo as folhas de repolho. Essa parte fui eu que criei.

Aí levei ao fogo alto até ferver e então baixei para o “ foguinho da Emília” que nada mais é do que quase desligar o fogo, deixá-lo muito baixinho.

Em pouco tempo um cheiro maravilhoso invadiu a casa toda. A bacalhoada vai cozinhando lentamente e já vai colocando água na boca.

Eu volto aos meus vinte e poucos anos, esperando meu primeiro filho e no almoço coletivo que fazíamos na vilazinha onde morávamos. Cada um levava o que tinha feito e Mario, o marido da Emília, chamava essa refeição de ágape, que quer dizer uma refeição comunitária com clima de amor.

Tempos lindos e que deixaram muitas saudades…