O ar do outono…
Eu gosto muito do outono, não é muito frio, nem muito quente. O céu geralmente é azul com nuvenzinhas perdidas na imensidão. O sol é mais amarelo e é a única época em que uso óculos protetores .
Maio é o mês do meu aniversário e isso sempre me deixava sempre feliz, presentes, festa, roupa nova. Agora já vou fazer oitenta e quatro anos. Se eu me sinto com essa idade toda? Nunca. Minha voz e minha cabeça continuam muito jovens, mas muitas vezes meu corpo já não acompanha.
Agora estou na varanda e o sol dourado do outono está iluminando as pontas das árvores na floresta , passando entre as folhagens e criando desenhos luminosos na grama. Aqui temos flores o ano todo e eu adoro.
A água do riacho e o murmúrio que ela faz diminui porque agora não chove, mas a água da mina que abastece nossas casas continua linda, limpa, a mesma sempre e isso é uma benção.
De alguma forma esse ar me transporta no tempo, me lembra os bailinhos nas tardes, as danças de rosto colado, o cabelo com brilhantina dos rapazes e nossos rostos corados de emoção. Era muito bom colocar um vestido rodado, com anáguas armando a saia e a cintura fina bem apertada pelo cinto de elástico. O perfume era verbena, cashmere bouquet ou chanel n5 fake. No rosto um pó de arroz ou um “angel face”, um pó com base de antigamente.
O coração sempre batia mais forte quando um rapaz enlaçava a nossa cintura. Não era adequado “dar tábua”, ou seja, não aceitar o convite para a dança. Como eu sempre fui das mais altas era complicado porque os rapazes eram pequenos em relação a minha altura e eu ficava com o rosto no cabelo deles.
Tambem teve uma época que eu estava gordinha e a tinha um pouco de gozação em cima de mim. Eu era bonita e isso tambem causava inveja nas colegas e “amigas”. Depois, na época do vestibular eu emagreci dez quilos sem perceber e cheguei até a ser convidada para participar do concurso de Miss São Paulo, mas papai não quis nem falar no assunto.
Tudo isso traz aquele cheiro de saudade numa de mais de oitenta anos, com uma cabeça muito boa, num corpo que não acompanha muito…
